Em 2022, o Fed divulgou um relatório preliminar descrevendo a CBDC como “uma forma digital de papel-moeda”. Hoje, os americanos já usam passivos do Federal Reserve na forma de dinheiro físico, mas uma CBDC permitiria que cidadãos e empresas mantivessem depósitos diretamente no banco central — algo hoje restrito a instituições financeiras.
Os republicanos argumentam que a CBDC ameaça a privacidade e abriria caminho para uma vigilância financeira em massa. No entanto, é importante lembrar que o governo dos EUA já possui mecanismos legais para acessar registros bancários privados. Além disso, qualquer implementação de CBDC teria de seguir leis como a Lei do Direito à Privacidade Financeira, garantindo proteção semelhante à dos bancos tradicionais.
O verdadeiro medo, no entanto, parece ser outro: uma CBDC poderia competir diretamente com bancos privados e stablecoins, atraindo usuários que hoje dependem de intermediários financeiros. Por isso, o setor bancário pressiona contra a ideia.
Brasil: um exemplo prático com o Pix
Enquanto os EUA travam esse debate, o Brasil já demonstra como um sistema de pagamentos público pode transformar a economia. Em 2020, o Banco Central lançou o Pix, um sistema de pagamentos instantâneos que, em poucos anos, conquistou 93% dos adultos brasileiros.
Por que o Pix é um sucesso?
De acordo com um relatório do FMI:
- As transações são quase instantâneas – um pagamento via Pix é liquidado em cerca de 3 segundos, enquanto cartões de débito levam 2 dias e cartões de crédito, até 28 dias.
- Os custos são significativamente menores – para pessoas físicas, o Pix é gratuito, e para empresas, a taxa média é de 0,33%, contra 1,13% para cartões de débito e 2,34% para cartões de crédito.
Em outras palavras, o Pix oferece o que as criptomoedas prometeram, mas nunca entregaram: baixo custo, rapidez e inclusão financeira real. Basta comparar: apenas 2% dos americanos usaram criptomoedas para pagamentos em 2024, enquanto quase todos os brasileiros já utilizam o Pix regularmente.
Além disso, o Pix evita riscos extremos associados ao universo cripto, como sequestros e extorsões para obtenção de chaves privadas.
Os EUA vão adotar um sistema semelhante ao Pix?
A resposta mais provável é não — e por dois motivos principais:
- Poder do setor financeiro – bancos e empresas de cartão de crédito têm grande influência política e jamais aceitariam um concorrente público mais eficiente.
- Ideologia política – a direita americana continua defendendo que o governo é sempre o problema, nunca a solução, o que impede o reconhecimento do sucesso de um sistema público como o Pix.
Conclusão: o Brasil está à frente no futuro do dinheiro?
O Brasil mostra que é possível criar um sistema de pagamentos eficiente, inclusivo e barato, servindo de exemplo para outros países. Enquanto isso, os EUA permanecem presos a disputas políticas e interesses privados.
Se a tendência continuar, o futuro do dinheiro pode estar sendo escrito muito mais em Brasília do que em Washington.